domingo, 19 de julho de 2009

Um poeta absurdamente absurdado


Saudações,

leitores da mais cara poesia...
Queria mostrar para vocês um "elemento" inusitado
que nasceu em meados do século XIX lá no sertão da
Paraíba. Mais precisamente no sítio Teixeira, região central onde passou a maior parte de sua vida.
Sobre ele, não se tem filmagens ou gravações.
As suas poesias encontram-se retratadas hoje em livros e cordéis e a maioria delas foi salva pela boa e velha tradição oral.

É conhecido como "o poeta do absurdo" , talvez
porque diga coisas absurdas e brinque com as tradições
católicas, bíblicas e com nomes de santos e heróis da história. Zé Limeira é a típica figura pictórica do universo sertanejo.
Dessa forma, sua poesia tem a marca registrada de não levar a arte poética a sério.

É, sem dúvida, de todos os poetas populares, juntamente com o velho pinto do monteiro,
o mais engraçado e desafiador da poesia popular quando o assunto é peleja poética.

Espero que divirtam-se bastante com essa pequena
demonstração da poesia do velho doido ( com todo respeito e admiração) Zé Limeira.


Repentes
Limeira¹ – O Poeta do Absurdo.


“Eu me chamo Zé Limeira
Da Paraíba falada,
Cantando nas Escritura,
Saudando o pai da coalhada,
A lua branca alumia,
Jesus, José e Maria,
Três anjos na farinhada”.

“Uma véia gurizada
Pra mim já é fim de rama,
Um véio Reis da Bahia
Casou-se em riba da cama,
Eu só digo pru dizê,
Traga o Padre pra benzê
O suvaco da madama”.

“Jesus foi home de fama
Dentro de Cafarnaum,
Feliz da mesa que tem
Costela de gaiamum,
No sertão do cariri
Vi um casal de siri
Sem comprimisso nenhum”.

“Napoleão era um
Bom capitão de navio,
Sofria de tosse braba
No tempo que era sadio,
Foi poeta e demagogo,
Numa coivara de fogo
Morreu tremendo de frio”.

“Meu verso merece um rio
Todo enfeitado de coco,
Boa semente de gado,
Bom criatoro de porco,
Dizia Dom Pedro Segundo
Que a coisa melhor do mundo
É cheiro de arroto choco”.

“São Pedro, na sacristia,
Batizou Agamenon,
Jesus entrou em Belém
Proibindo o califom,
Montado na sua idéia,
Nas ruas da Galiléia
Tocou viola e pistom”.

“Quando Jesus veio ao mundo
Foi só pra fazê justiça:
Com treze ano de idade
Discutiu com a doutoriça,
Com trinta ano depois,
Sentou praça na puliça”.

“Cantador pra cantar com Limeirinha
É preciso ser muito envernizado,
Ter um taco de chifre de veado
E saber decorado a ladainha,
Ter guardado uma pena de andorinha,
Condenar pra sempre o carnaval,
Guardar terra de fundo de quintal
E é preciso engrossar o pau da venta,
Beber leite de peito de jumenta,
Ediceta, pei-bufo, coisa e tal”!