terça-feira, 9 de junho de 2009

Improviso do Amor-Perfeito

Dia dos namorados chegando... Nesses versos da maestra
Cecília Meireles temos a espiritualidade presente em suas rimas. Sua poesia não fala da relação física mas do amor imaginado, sonhado. Para os românticos a ideia é fundamental, mas não é tudo. E os amantes que não possuem essa eterna busca pelo Amor-Perfeito não são dignos dEle.



Improviso do Amor-Perfeito




Naquela nuvem, naquela,
mando-te meu pensamento:
que Deus se ocupe do vento.
Os sonhos foram sonhados,
e o padecimento aceito.
E onde estás, Amor-Perfeito?


Imensos jardins da insônia,
de um olhar de despedida
deram flor por toda a vida.
Ai de mim que sobrevivo
sem o coração no peito.
E onde estás, Amor-Perfeito?


Longe, longe,atrás do oceano
que nos meus se alteia
entre pálpebras de areia...
Longe, longe... Deus te guarde
sobre o seu lado direito,
como eu te guardava do outro,
noite e dia, Amor-Perfeito.


Cecília Meireles

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Estrelas do passado


Essa é mais uma obra autobiográfica de Maciel Melo intitulada "Estrelas do Passado", nesses versos simples maciel massageia a vida com suas experiências
surpreendentes e instigantes por terem o prazer de serem inacabadas e inacabáveis.

Já errei muito mais do que devia
Hoje estou começando a errar bem menos
Meus deslizes começam a ser pequenos
Bem menores que a ânsia de chegar
Eu sai sem saber como voltar
Eu segui os atalhos do destino
Apanhei pra deixar de ser menino
E hoje apanho tentando não errar

Já andei muitas braças, muitas léguas
Tive grandes e enormes bons amigos
Tive vários amores, tive abrigos
Tive abalos, caí, me levantei
Tive acasos, perdi, também ganhei
Meus pecados paguei em alto preço
Me perdoe se achar que eu mereço
Se mereço até eu nem mesmo sei


Sei que nada se perdera por completo
Ainda resta um restinho de esperança
Um fiapo, uma nesga de lembrança
De um passado feliz que me marcou
Um poeta, um boêmio, um cantador
Um balcão, uma prosa, uma piada
Um soneto, um repente, uma noitada
E uma canção pelas retinas desabou


Meu desafio pelas léguas caminhou
Fui ferido e feri quem me feriu
E ferindo, a ferida se abriu
Nunca mais suturou, tornou-se chaga
E uma canção de amor me embriaga
Em doses de versos Buarqueanos
E uma bandeira branca em fino pano
Bem no seio de minha alma foi fincada


Foi ficando cada vez mais hasteada
E bem no alto tremula irradiante
Acenando aos poetas mais errantes
Quero paz e o resto a gente enterra
Qualquer mágoa nesse instante se encerra
Meu abraço abre os braços para os teus
E se teus braços chegarem junto aos meus
Eu abraço e nunca mais teremos guerra.

Canção do mês: "Sem ouro e sem mágoa"


Pra começar...
Nada melhor do que uma boa poesia sertaneja
Com o cheiro da terra e a maestria de Maciel Melo,
um dos maiores cantadores vivos desse sertão tão belo.

"Sem ouro e sem mágoa" é a música título de seu mais novo trabalho, no qual o mesmo compartilha várias canções com nomes como Santana e Silvério Pessoa.
Espero que se deleitem com essa música tão bela que é uma parceria entre ele e Fausto Nilo.



Sem ouro e sem mágoa

Me disseram que a noite é de lua na casa do rei
Eu também sou um rei nessa rua, na casa da solidão
Uma rosa ilumina meus olhos cansados de ver
A mentira subindo pró céu e a verdade no chão

Chega de fumaça do sereno,
chega que o veneno tá demais
Ê, minha nega, não chora que o tempo se atrasa
A saudade é uma casa caiada coberta de gás

Pelo o que a sanfona tá dizendo
Isso aqui também tá bom demais
Ê, vida boa, me leva sem ouro e sem mágoa
Sou cavalo que não bebe água e nem olha pra trás

Mas se ela quiser me levar na cachoeira
Pra esquecer dessa besteira, eu rastejo aos seus pés
Quando acabar de cantar a saideira

Minha alteza companheira que beleza que tu és.