quinta-feira, 11 de março de 2010

Ele preferia ser... Raul Seixas

Acho que não dá pra falar de Raul sem falar desse álbum. Na minha opinião é o mais completo e não é a toa que é um de seus mais vendidos. O Gita foi lançado após um período de exílio (1974) vivido por Raulzito e seu parceiro Paulo Coelho - Don Paulete como é chamado na primeira faixa "Super heróis" -  durante a ditadura militar. Os dois foram obrigados a permanecer nos EUA devido a problemas com a censura brasileira. Mas podemos notar claramente que o maluco beleza não abandona o tom provocativo de suas obras inserindo-se na capa de boina e guitarra vermelhas lembrando 'vagamente' um guerrilheiro da época.

Pois bem, o conteúdo do álbum não poderia ser diferente. Além de canções inspiradas na famosa sociedade alternativa, Raul se inspira no repente de viola em "As aventuras de Raul Seixas na cidade de Thor" pra manter a irreverência sarcástica de suas composições criticando a sociedade da época e respondendo também às críticas que lhe eram feitas. Curiosamente o Gita faturou o disco de ouro (600 mil cópias) e ganhou até vídeo-clipe no fantástico (Podjjee!!!??) além de render à dupla de compositores um convite pra fazer trilha de novela (Querem saber qual? procurem! Hahahah).

Pra quem quer curtir uma boa música brasileira de seu tempo e com conteúdo atualíssimo esse álbum em especial não pode passar batido. O "nuvens e versos" traz para os amantes da poesia a composição "As aventuras de Raul Seixas na cidade de Thor" na íntegra.

Deleite-se, fino leitor.

As Aventuras De Raul Seixas na Cidade de Thor

Raul Seixas

Composição: Raul Seixas
 
Tá rebocado meu compadre
Como os donos do mundo piraram
Eles já são carrascos e vítimas
Do próprio mecanismo que criaram


O monstro SIST é retado
E tá doido pra transar comigo
E sempre que você dorme de touca
Ele fatura em cima do inimigo


A arapuca está armada
E não adianta de fora protestar
Quando se quer entrar
Num buraco de rato
De rato você tem que transar


Buliram muito com o planeta
E o planeta como um cachorro eu vejo
Se ele já não aguenta mais as pulgas
Se livra delas num sacolejo


Hoje a gente já nem sabe
De que lado estão certos cabeludos
Tipo estereotipado
Se é da direita ou dá traseira
Não se sabe mais lá de que lado


Eu que sou vivo pra cachorro
No que eu estou longe eu tô perto
Se eu não estiver com Deus, meu filho
Eu estou sempre aqui com o olho aberto


A civilização se tornou complicada
Que ficou tão frágil como um computador
Que se uma criança descobrir
O calcanhar de Aquiles
Com um só palito pára o motor


Tem gente que passa a vida inteira
Travando a inútil luta com os galhos
Sem saber que é lá no tronco
Que está o coringa do baralho


Quando eu compus fiz Ouro de Tolo
Uns imbecis me chamaram de profeta do apocalipse
Mas eles só vão entender o que eu falei
No esperado dia do eclipse


Acredite que eu não tenho nada a ver
Com a linha evolutiva da Música Popular Brasileira
A única linha que eu conheça
É a linha de empinar uma bandeira


Eu já passei por todas as religiões
Filosofias, políticas e lutas
Aos 11 anos de idade eu já desconfiava
Da verdade absoluta


Raul Seixas e Raulzito
Sempre foram o mesmo homem
Mas pra aprender o jogo dos ratos
Transou com Deus e com o lobisomem